HISTÓRIAS DO
INTERIOR
Cid Seixas
Osvaldo Sá é um velho poeta
e cronista do Recôncavo Baiano. Figura intelectual mais importante de
Maragogipe, dá continuidade a uma tradição poética da cidade, que teve um dos
seus momentos mais criativos com a poesia de Durval de Moraes, escritor maragogipano
e companheiro de geração de poetas do porte de Pedro Kilkerry, nascido na
vizinha cidade de Santo Antonio de Jesus.
Através de uma obra que já
perfaz um total de dezenove volumes, Osvaldo Sá vem reconstituindo, pedaço a
pedaço, a história da sua gente, ora através dos versos de um poeta que continua
fiel à tradição pré-modernista, ora através de crônicas que entrelaçam ficção e
pesquisa documental. São as chamadas Histórias
Menores de Osvaldo Sá, manancial para futuras investigações sobre a vida do
recôncavo baiano.
Se todas as cidades do
interior tivessem o seu cantor e cronista, como Maragogipe tem a Osvaldo Sá, a
pesquisa para uma história da Bahia, a partir das suas regiões, seria bem
viável. Ele levanta e anota cuidadosamente documentos e fatos relevantes ou
pitorescos dos mais diversos momentos, constituindo um painel rico e útil. Mas
este velho polígrafo não é apenas o cronista da sua cidade; é também um poeta
fino e capaz de manter intocados nos seus sonetos os momentos mais singulares
da vida de uma cidadezinha do interior. Publicou seu primeiro livro de poesia, Folhas ao vento, na década de quarenta,
não passando desapercebido aos leitores mais sensíveis.
Para Anísio Melhor “há na
poética de Osvaldo Sá um encantamento sereno de harmonia. Os versos estão
cheios de um sentimento sem artifício, inspirados em assuntos e quadras
regionais, ou nos próprios sentimentos de amor”. Já Antônio Houaiss diz que “o
encantatório que se evola de muitas linhas suas recupera-nos o encantamento de
textos antigos e renovos.”
A sombra do palmeiral é um conjunto de crônicas que dá continuidade ao seu trabalho de
prosador, iniciado com o livro Maragogipe
humorístico e tão bem aprofundado nos três volumes de Histórias Menores. “Lendas e histórias”, “No mundo de assombros” e
“A minha santa natureza” são as três partes deste novo livro do autor de A conspirata dos galos. Aqui, a memória
se entrelaça com a história local. O autor permeia os fatos da sua cidade com
acontecidos durante a sua estadia na capital, fazendo com que o foco se perca
em busca de outros espaços.
Mais precisos seriam os
objetivos desta crônica do interior, ou destas memórias pessoais e citadinas,
se o autor circunscrevesse a geografia do seu relato à região natal. Aqui, ele
trabalha sua colcha de retalhos juntando memórias e histórias menores. Lembranças
de episódios ocorridos em outros lugares caberiam mais apropriadamente em livros
como Vala dos meus dias, que reúnem
memórias.
Mas de uma coisa o leitor
fica convencido: Osvaldo Sá é escritor. Por gosto e vocação. Sua pena corre
suave e agradavelmente por sobre o papel da nossa imaginação. Às vezes, o
preciosismo e a busca de uma adjetivação erudita aplicada a situações
cotidianas quebram, um pouco, a sugestão de uma paisagem humana singela, que é
a tônica das suas narrativas. Mas em seguida, a simplicidade é reencontrada
pela sua escrita, assegurando o prazer da leitura.
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Osvaldo Sá: À Sombra do Palmeiral. Cachoeira,
Editora Gráfica Paraguaçu, 1994.
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