ITINERÁRIO
DE CASTRO ALVES
por Cid Seixas
Os Estudos sobre
Castro Alves que Edivaldo Boaventura acaba de acrescentar à vasta
bibliografia sobre o tema trazem uma marca pessoal bastante forte: o leitor
encontra, simultaneamente, informações sobre o poeta e um minucioso testemunho
do envolvimento do autor do livro com a preservação da memória e do acervo
castroalvinos.
Os onze capítulos ora
apresentam os resultados de investigações sobre a vida e a obra de Castro
Alves, ora prestam constas das atividades do autor do livro, enquanto estudioso
do tema. Ele confessa ter herdado de Pedro Calmon a paixão pelas investigações
destinadas a fornecer um painel, o mais amplo possível, que permita a
compreensão do fenômeno Castro Alves.
Para quem não conhece
de perto o trabalho do educador Edivaldo Boaventura, convém elencar momentos e passagens do seu amplo curriculum, além dos pontos em que suas atividades se encontram com o objeto do livro.
Sua formação inicial,
como a de toda uma geração, foi em Direito, quando a velha faculdade reunia não
apenas aqueles que queriam se dedicar às leis mas as inteligências mais
inquietas e ambiciosas de uma época. Em seguida complementou sua formação
jurídica com as Ciências Sociais. Sua passagem pelo direito foi coroada com o
exercício da magistratura. Conheci o professor Edivaldo Boaventura quando ele
era Juiz do Trabalho em Maragogipe. Já nesta época o educador falava alto e o
inquieto estudioso resolveu ministrar na pequena cidade um curso de noções de
Economia Política que atraiu a atenção de todos. Estudante de colégio,
empolgado com a novidade, fui ouvir as lições do Dr. Edivaldo, como todos na
cidade chamávamos ao Juiz e ainda chamamos ao amigo.
Mas, logo em seguida,
Edivaldo Boaventura abandonou a bem remunerada carreira de magistrado, na qual
já se previa para ele as futuras funções de Ministro do Tribunal, para se
dedicar inteiramente à educação. Sem obedecer à linearidade usual, cumpriu
todas as etapas da vida acadêmica: Mestre e PhD em Educação pela Pennsilvania
University, Livre Docente e Professor Titular pela UFBA.
Foi o idealizador e
principal criador da UNEB, Universidade do Estado da Bahia, da qual foi Reitor
por duas vezes. Foi também duas vezes Secretário de Educação e Cultura, nos
governos de Luiz Viana Filho e João Durval. Acadêmico, membro de várias
instituições, destacando-se a Academia Brasileira de Educação e o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, a nível nacional, e a Academia de Letras da
Bahia, a nível estadual.
Mais recentemente, o
professor doutor Edivaldo Boaventura trabalhou na criação do Doutorado em
Educação da UFBA, do qual foi o seu primeiro Coordenador. Assinou durante
muitos anos a coluna de educação de A
Tarde e, a partir de 1996, com a aposentadoria do Dr. Jorge Calmon,
passou a ser o Diretor deste jornal.
Mas foram as funções de
Reitor e de Secretário de Educação que aproximaram Edivaldo Boaventura das
investigações sobre Castro Alves. Como dá conta no livro, o seu empenhado
trabalho quando da criação do Parque Histórico Castro Alves, em Cabaceiras,
terminou fazendo do ex-Reitor e do ex-Secretário de Estado um estudioso dos
temas castroalvinos.
O Parque, concebido
como centro cultural destinado a preservar a memória e o acervo do poeta, foi
dotado de auditório, museu e escola. A velha fazenda Cabaceiras pertenceu ao
município de Cachoeira e depois ao de Muritiba. Hoje, com o impulso trazido
pelo Parque, o lugarejo transformou-se no município de Cabaceiras. Um pouco
desta história é contada no livro Estudos
sobre Castro Alves, que, a partir daí, também é o primeiro livro a
registrar a história do novo município.
Os interessados nos
aspectos externos da obra do poeta baiano e na construção de um painel o mais
amplo possível envolvendo investigações sobre sua vida, seus poemas e sua
posteridade, encontrarão neste livro informações e dados cuidadosamente
reunidos.
Por fim, o último
capítulo do livro de Edivaldo Boaventura traz para todos nós uma notícia da
maior importância, o projeto do autor de publicação de uma fotobiografia de
Castro Alves. Sustentado numa pesquisa preliminar sobre a fotobiografia, o
autor vem reunindo todo material possível sobre Castro Alves para nos brindar
com uma fotobiografia similar à de Fernando Pessoa, publicada em Portugal por
Maria José de Lancastre.
A sua concepção de um
trabalho desta natureza partiu da definição dada a este tipo de biografia
iconográfica por Rui Guedes, quando apresentou o perfil de Florbela Espanca.
Por se tratar de um termo novo, que não consta nos dicionários e enciclopédias,
Edivaldo Boaventura foi buscar o seu conceito e o método de empreender tal
investigação nas experiências desenvolvidas principalmente entre os
portugueses.
A projetada
fotobiografia de Castro Alves, amplamente discutida neste livro de Edivaldo
Boaventura, aceita a tese segundo a qual “esta é uma das formas de fazer
biografia”, fazendo com que as imagens falem em lugar das palavras ou, mais
rigorosamente, complementando aquilo que foi dito ou não foi dito pelas
palavras.
Sabemos que as imagens
captam e enformam aspectos
da realidade às vezes pouco dóceis e difíceis de serem plasmados pelo discurso
verbal. Como uma fotobiografia não é um simples álbum onde são conservadas as
imagens, mas uma escolha crítica e consciente de um material que possa, ao
mesmo tempo, informar e interpretar fatos da vida do biografado, um trabalho
desta natureza exige anos de dedicação.
É o resultado desta
dedicação e deste ambicioso projeto do educador Edivaldo Boaventura que todos
nós passamos a aguardar, a partir da leitura de Estudos sobre Castro Alves.
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Itinerário de Castro
Alves. Artigo informativo sobre o livro Estudos sobre Castro Alves, de Edivaldo Boaventura. Salvador,
EGBA/EDUFBA, 1996, 192 p. Coluna “Leitura Crítica” do jornal A Tarde, Salvador, 1º abr. 96, p. 7.