HISTÓRIAS DO INTERIOR
por Cid Seixas
Osvaldo Sá é um velho poeta e cronista do Recôncavo Baiano. Figura intelectual mais importante de Maragogipe, dá continuidade a uma tradição poética da cidade, que teve um dos seus momentos altos com a figura de Durval de Moraes, poeta maragogipano e companheiro de geração de Pedro Kilkerry, nascido na vizinha cidade de Santo Antonio de Jesus.
Através de uma obra que já perfaz um total de dezenove volumes, Osvaldo Sá vem reconstituindo, pedaço a pedaço, a história da sua gente, ora através dos versos deste poeta que continua fiel a uma tradição pré-modernista, ora através de crônicas que entrelaçam ficção e pesquisa documental. São as chamadas Histórias Menores de Osvaldo Sá, manancial para futuras investigações sobre a vida do recôncavo baiano.
Se todas as cidades do interior tivessem o seu cantor e cronista, como Maragogipe tem a Osvaldo Sá, a pesquisa para uma história da Bahia, a partir das suas regiões, seria bem viável.
A sombra do palmeiral é um conjunto de crônicas que dá continuidade ao seu trabalho de prosador, iniciado com o livro Maragojipe humorístico e tão bem aprofundado nos três volumes de Histórias Menores. “Lendas e histórias”, “No mundo de assombros” e “A minha santa natureza” são as três partes deste novo livro de Osvaldo Sá. Aqui, a memória se entrelaça com a história local. O autor permeia os fatos da sua cidade com acontecidos durante a sua estadia na capital, fazendo com que o foco se perca em busca de outros espaços.
Mais precisos seriam os objetivos desta crônica do interior, ou destas memórias pessoais e citadinas, se o autor circunscrevesse a geografia do seu relato à sua região. Aqui, ele trabalha sua colcha de retalhos juntando memórias e histórias menores. Lembranças de episódios ocorridos em outros lugares caberiam mais apropriadamente em livros como Vala dos meus dias, que reúnem memórias.
Mas de uma coisa o leitor fica convencido: Osvaldo Sá é escritor. Sua pena corre suave e agradavelmente por sobre o papel da nossa imaginação. Às vezes, o preciosismo e a busca de uma adjetivação erudita aplicada a situações cotidianas quebram, um pouco, a sugestão de uma paisagem humana singela, que é a tônica das suas narrativas. Mas em seguida, a simplicidade é reencontrada pela sua escrita, assegurando o prazer da leitura.
(Osvaldo Sá. À Sombra do Palmeiral. Cachoeira, Editora Gráfica Paraguaçu, 1994. | Histórias do interior (resenha de livro). “Crítica & Idéias”, seção do jornal A Tarde, Salvador, 14 nov. 94, p. 5.)
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